TODOS LOS RECAMBIOS PARA SU HONDA

jueves, 7 de julio de 2011

São Paulo, por Washington Olivetto

 
    Alguns dos  meus queridos amigos cariocas têm mania de achar 
 São Paulo  parecida com Nova York.

     Discordo deles.  Só acha São Paulo parecida com Nova York quem 
 não conhece bem  a cidade. Ou melhor, quem a conhece 
 superficialmente e imagina  que São Paulo seja apenas uma imensa 
 Rua Oscar  Freire.

     Na verdade, o grande fascínio de  São Paulo é parecer-se com 
 muitas cidades ao mesmo tempo e,  por isso mesmo, não se parecer 
 com  nenhuma.

     São Paulo, entre muitas outras  parecenças, se parece com 
 Paris no Largo do Arouche, Salvador  na Estação do Brás, Tóquio 
 na Liberdade, Roma ao lado do  Teatro Municipal, Munique em Santo 
 Amaro, Lisboa no Pari, com  o Soho londrino na Vila Madalena e com 
 a  pernambucana  Olinda na Freguesia do Ó.

     São Paulo é um  somatório de qualidades e defeitos, alegrias 
 e tristezas,  festejos e tragédias. Tem hotéis de luxo, como o 
 Fasano, o  Emiliano e o L'Hotel, mas também tem gente dormindo 
 embaixo  das pontes.

     Tem o deslumbrante  pôr-do-sol do Alto de Pinheiros e a 
 exuberante vegetação da  Cantareira, mas também tem o ar mais 
 poluído do país. Promove  shows dos Rolling Stones e do U2, mas 
 também promove acidentes  como o da cratera do metrô e o do avião 
 da TAM em  Congonhas.

     São Paulo é sempre  surpreendente. Um grupo de meia dúzia de 
 paulistanos significa:
 um italiano, um japonês, um baiano, um chinês, um  curitibano e um 
 alemão.

     São Paulo é  realmente curiosa. Por exemplo: tem diversos 
 grandes times de  futebol, sendo que um deles leva o nome da 
 própria cidade e  recebeu o apelido 'o mais querido'. Mas, na 
 verdade, o maior e  o mais querido é o Corinthians, que tem nome 
 inglês, fica  perto da Portuguesa e foi fundado por italianos, 
 igualzinho ao  seu inimigo de estimação, o Palmeiras.

      São Paulo nasceu dos santos padres jesuítas, em 1554, mas  
 chegou a 2007 tendo como celebridade o permissivo Oscar  Maroni, do 
 afamado Bahamas.

     São Paulo já  foi chamada de 'o túmulo do samba' por Vinicius 
 de Moraes,  coisa que Adoniran Barbosa, Paulo Vanzolini e Germano 
 Mathias  provaram não ser verdade, e, apesar da deselegância 
 discreta  de suas meninas, corretamente constatada por Caetano 
 Veloso,  produziu chiques, como Dener Pamplona de Abreu e Gloria  
 Kalil.

     São Paulo faz pizzas melhores que  as de Nápoles, sushis 
 melhores que os de Tóquio, lagareiras  melhores que as de Lisboa e 
 pastéis de feira melhores que os  de Paris, até porque em Paris 
 não existem pastéis, muito menos  os de feira.

     Em alguns momentos, São  Paulo se acha o máximo, em outros um 
 horror. Nenhum lugar do  planeta é tão maniqueísta.

     São Paulo  teve o bom senso de imitar os botequins cariocas, e 
 agora são  os cariocas que andam imitando as suas imitações  
 paulistanas.

     São Paulo teve o mau senso  de ser a primeira cidade brasileira 
 a importar a CowParade,  uma colonizada e pavorosa manifestação de 
 subarte urbana, e  agora o Rio faz o mesmo.

     São Paulo se  poluiu visualmente com a Cow Parade, mas se 
 despoluiu com o  Projeto Cidade Limpa.

     Agora tem de  começar urgentemente a despoluir o Tietê para 
 valer, coisa que  os ingleses já provaram ser perfeitamente 
 possível com o  Tâmisa.

     Mesmo despoluindo o Tietê,  mantendo a cidade limpa, 
 purificando o ar, organizando o  mobiliário urbano, regulamentando 
 os projetos arquitetônicos,  diminuindo as invasões sonoras e 
 melhorando o tráfego, São  Paulo jamais será uma cidade 
 belíssima. Porque a beleza de São  Paulo não é fruto da mamãe 
 natureza, é fruto do trabalho do  homem.

     Reside, principalmente, nas  inúmeras oportunidades que a 
 cidade oferece, no clima de  excitação permanente, na mescla de 
 raças e classes  sociais.

     São Paulo é a cidade em que a  democratização da beleza, 
 fenômeno gerado pela   miscigenação, melhor se manifesta.

     São  Paulo é uma cidade em que o corpo e as mãos do homem  
 trabalharam direitinho, coisa que se reconhece observando as  
 meninas que circulam pelas ruas.

     E se  confirma analisando obras como o Pátio do Colégio (local 
 de  fundação da cidade), a Estação da Luz (onde hoje fica o 
 Museu  da Língua Portuguesa), o Mosteiro de São Bento, a Oca, no  
 Parque do Ibirapuera, o Terraço Itália, a Avenida Paulista, o  
 Sesc Pompéia, o palacete Vila Penteado, o Masp, o Memorial da  
 América Latina, a Santa Casa de Misericórdia, a Pinacoteca e  mais 
 uma infinidade de lugares desta cidade que não pode  parar, até 
 porque tem mais carros do que  estacionamentos.

     São Paulo não é  geograficamente linda, não tem mares azuis, 
 areias brancas nem  montanhas recortadas.

     Nossa surfista  mais famosa é a Bruna, e nossos alpinistas, na 
 maioria, são  sociais.

     Mas, mesmo se levarmos o  julgamento para o quesito das belezas 
 naturais, São Paulo se  dá mundialmente muito bem por uma razão 
 tecnicamente  comprovada.

 Entre as maiores cidades do mundo, como  Tóquio, Nova York e Cidade 
 do México, em matéria de  proximidade da beleza, São Paulo é, 
 disparado, a  melhor.     Porque é a única que  fica a apenas 45 
 minutos de vôo do Rio de  Janeiro. O mais importante é que com 
 essa distância nenhuma bala perdida pode alcançar São Paulo !

 Washington  Olivetto é paulista, paulistano e  publicitário.

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