Alguns dos meus queridos amigos cariocas têm mania de achar
São Paulo parecida com Nova York.
Discordo deles. Só acha São Paulo parecida com Nova York quem
não conhece bem a cidade. Ou melhor, quem a conhece
superficialmente e imagina que São Paulo seja apenas uma imensa
Rua Oscar Freire.
Na verdade, o grande fascínio de São Paulo é parecer-se com
muitas cidades ao mesmo tempo e, por isso mesmo, não se parecer
com nenhuma.
São Paulo, entre muitas outras parecenças, se parece com
Paris no Largo do Arouche, Salvador na Estação do Brás, Tóquio
na Liberdade, Roma ao lado do Teatro Municipal, Munique em Santo
Amaro, Lisboa no Pari, com o Soho londrino na Vila Madalena e com
a pernambucana Olinda na Freguesia do Ó.
São Paulo é um somatório de qualidades e defeitos, alegrias
e tristezas, festejos e tragédias. Tem hotéis de luxo, como o
Fasano, o Emiliano e o L'Hotel, mas também tem gente dormindo
embaixo das pontes.
Tem o deslumbrante pôr-do-sol do Alto de Pinheiros e a
exuberante vegetação da Cantareira, mas também tem o ar mais
poluído do país. Promove shows dos Rolling Stones e do U2, mas
também promove acidentes como o da cratera do metrô e o do avião
da TAM em Congonhas.
São Paulo é sempre surpreendente. Um grupo de meia dúzia de
paulistanos significa:
um italiano, um japonês, um baiano, um chinês, um curitibano e um
alemão.
São Paulo é realmente curiosa. Por exemplo: tem diversos
grandes times de futebol, sendo que um deles leva o nome da
própria cidade e recebeu o apelido 'o mais querido'. Mas, na
verdade, o maior e o mais querido é o Corinthians, que tem nome
inglês, fica perto da Portuguesa e foi fundado por italianos,
igualzinho ao seu inimigo de estimação, o Palmeiras.
São Paulo nasceu dos santos padres jesuítas, em 1554, mas
chegou a 2007 tendo como celebridade o permissivo Oscar Maroni, do
afamado Bahamas.
São Paulo já foi chamada de 'o túmulo do samba' por Vinicius
de Moraes, coisa que Adoniran Barbosa, Paulo Vanzolini e Germano
Mathias provaram não ser verdade, e, apesar da deselegância
discreta de suas meninas, corretamente constatada por Caetano
Veloso, produziu chiques, como Dener Pamplona de Abreu e Gloria
Kalil.
São Paulo faz pizzas melhores que as de Nápoles, sushis
melhores que os de Tóquio, lagareiras melhores que as de Lisboa e
pastéis de feira melhores que os de Paris, até porque em Paris
não existem pastéis, muito menos os de feira.
Em alguns momentos, São Paulo se acha o máximo, em outros um
horror. Nenhum lugar do planeta é tão maniqueísta.
São Paulo teve o bom senso de imitar os botequins cariocas, e
agora são os cariocas que andam imitando as suas imitações
paulistanas.
São Paulo teve o mau senso de ser a primeira cidade brasileira
a importar a CowParade, uma colonizada e pavorosa manifestação de
subarte urbana, e agora o Rio faz o mesmo.
São Paulo se poluiu visualmente com a Cow Parade, mas se
despoluiu com o Projeto Cidade Limpa.
Agora tem de começar urgentemente a despoluir o Tietê para
valer, coisa que os ingleses já provaram ser perfeitamente
possível com o Tâmisa.
Mesmo despoluindo o Tietê, mantendo a cidade limpa,
purificando o ar, organizando o mobiliário urbano, regulamentando
os projetos arquitetônicos, diminuindo as invasões sonoras e
melhorando o tráfego, São Paulo jamais será uma cidade
belíssima. Porque a beleza de São Paulo não é fruto da mamãe
natureza, é fruto do trabalho do homem.
Reside, principalmente, nas inúmeras oportunidades que a
cidade oferece, no clima de excitação permanente, na mescla de
raças e classes sociais.
São Paulo é a cidade em que a democratização da beleza,
fenômeno gerado pela miscigenação, melhor se manifesta.
São Paulo é uma cidade em que o corpo e as mãos do homem
trabalharam direitinho, coisa que se reconhece observando as
meninas que circulam pelas ruas.
E se confirma analisando obras como o Pátio do Colégio (local
de fundação da cidade), a Estação da Luz (onde hoje fica o
Museu da Língua Portuguesa), o Mosteiro de São Bento, a Oca, no
Parque do Ibirapuera, o Terraço Itália, a Avenida Paulista, o
Sesc Pompéia, o palacete Vila Penteado, o Masp, o Memorial da
América Latina, a Santa Casa de Misericórdia, a Pinacoteca e mais
uma infinidade de lugares desta cidade que não pode parar, até
porque tem mais carros do que estacionamentos.
São Paulo não é geograficamente linda, não tem mares azuis,
areias brancas nem montanhas recortadas.
Nossa surfista mais famosa é a Bruna, e nossos alpinistas, na
maioria, são sociais.
Mas, mesmo se levarmos o julgamento para o quesito das belezas
naturais, São Paulo se dá mundialmente muito bem por uma razão
tecnicamente comprovada.
Entre as maiores cidades do mundo, como Tóquio, Nova York e Cidade
do México, em matéria de proximidade da beleza, São Paulo é,
disparado, a melhor. Porque é a única que fica a apenas 45
minutos de vôo do Rio de Janeiro. O mais importante é que com
essa distância nenhuma bala perdida pode alcançar São Paulo !
Washington Olivetto é paulista, paulistano e publicitário.
São Paulo parecida com Nova York.
Discordo deles. Só acha São Paulo parecida com Nova York quem
não conhece bem a cidade. Ou melhor, quem a conhece
superficialmente e imagina que São Paulo seja apenas uma imensa
Rua Oscar Freire.
Na verdade, o grande fascínio de São Paulo é parecer-se com
muitas cidades ao mesmo tempo e, por isso mesmo, não se parecer
com nenhuma.
São Paulo, entre muitas outras parecenças, se parece com
Paris no Largo do Arouche, Salvador na Estação do Brás, Tóquio
na Liberdade, Roma ao lado do Teatro Municipal, Munique em Santo
Amaro, Lisboa no Pari, com o Soho londrino na Vila Madalena e com
a pernambucana Olinda na Freguesia do Ó.
São Paulo é um somatório de qualidades e defeitos, alegrias
e tristezas, festejos e tragédias. Tem hotéis de luxo, como o
Fasano, o Emiliano e o L'Hotel, mas também tem gente dormindo
embaixo das pontes.
Tem o deslumbrante pôr-do-sol do Alto de Pinheiros e a
exuberante vegetação da Cantareira, mas também tem o ar mais
poluído do país. Promove shows dos Rolling Stones e do U2, mas
também promove acidentes como o da cratera do metrô e o do avião
da TAM em Congonhas.
São Paulo é sempre surpreendente. Um grupo de meia dúzia de
paulistanos significa:
um italiano, um japonês, um baiano, um chinês, um curitibano e um
alemão.
São Paulo é realmente curiosa. Por exemplo: tem diversos
grandes times de futebol, sendo que um deles leva o nome da
própria cidade e recebeu o apelido 'o mais querido'. Mas, na
verdade, o maior e o mais querido é o Corinthians, que tem nome
inglês, fica perto da Portuguesa e foi fundado por italianos,
igualzinho ao seu inimigo de estimação, o Palmeiras.
São Paulo nasceu dos santos padres jesuítas, em 1554, mas
chegou a 2007 tendo como celebridade o permissivo Oscar Maroni, do
afamado Bahamas.
São Paulo já foi chamada de 'o túmulo do samba' por Vinicius
de Moraes, coisa que Adoniran Barbosa, Paulo Vanzolini e Germano
Mathias provaram não ser verdade, e, apesar da deselegância
discreta de suas meninas, corretamente constatada por Caetano
Veloso, produziu chiques, como Dener Pamplona de Abreu e Gloria
Kalil.
São Paulo faz pizzas melhores que as de Nápoles, sushis
melhores que os de Tóquio, lagareiras melhores que as de Lisboa e
pastéis de feira melhores que os de Paris, até porque em Paris
não existem pastéis, muito menos os de feira.
Em alguns momentos, São Paulo se acha o máximo, em outros um
horror. Nenhum lugar do planeta é tão maniqueísta.
São Paulo teve o bom senso de imitar os botequins cariocas, e
agora são os cariocas que andam imitando as suas imitações
paulistanas.
São Paulo teve o mau senso de ser a primeira cidade brasileira
a importar a CowParade, uma colonizada e pavorosa manifestação de
subarte urbana, e agora o Rio faz o mesmo.
São Paulo se poluiu visualmente com a Cow Parade, mas se
despoluiu com o Projeto Cidade Limpa.
Agora tem de começar urgentemente a despoluir o Tietê para
valer, coisa que os ingleses já provaram ser perfeitamente
possível com o Tâmisa.
Mesmo despoluindo o Tietê, mantendo a cidade limpa,
purificando o ar, organizando o mobiliário urbano, regulamentando
os projetos arquitetônicos, diminuindo as invasões sonoras e
melhorando o tráfego, São Paulo jamais será uma cidade
belíssima. Porque a beleza de São Paulo não é fruto da mamãe
natureza, é fruto do trabalho do homem.
Reside, principalmente, nas inúmeras oportunidades que a
cidade oferece, no clima de excitação permanente, na mescla de
raças e classes sociais.
São Paulo é a cidade em que a democratização da beleza,
fenômeno gerado pela miscigenação, melhor se manifesta.
São Paulo é uma cidade em que o corpo e as mãos do homem
trabalharam direitinho, coisa que se reconhece observando as
meninas que circulam pelas ruas.
E se confirma analisando obras como o Pátio do Colégio (local
de fundação da cidade), a Estação da Luz (onde hoje fica o
Museu da Língua Portuguesa), o Mosteiro de São Bento, a Oca, no
Parque do Ibirapuera, o Terraço Itália, a Avenida Paulista, o
Sesc Pompéia, o palacete Vila Penteado, o Masp, o Memorial da
América Latina, a Santa Casa de Misericórdia, a Pinacoteca e mais
uma infinidade de lugares desta cidade que não pode parar, até
porque tem mais carros do que estacionamentos.
São Paulo não é geograficamente linda, não tem mares azuis,
areias brancas nem montanhas recortadas.
Nossa surfista mais famosa é a Bruna, e nossos alpinistas, na
maioria, são sociais.
Mas, mesmo se levarmos o julgamento para o quesito das belezas
naturais, São Paulo se dá mundialmente muito bem por uma razão
tecnicamente comprovada.
Entre as maiores cidades do mundo, como Tóquio, Nova York e Cidade
do México, em matéria de proximidade da beleza, São Paulo é,
disparado, a melhor. Porque é a única que fica a apenas 45
minutos de vôo do Rio de Janeiro. O mais importante é que com
essa distância nenhuma bala perdida pode alcançar São Paulo !
Washington Olivetto é paulista, paulistano e publicitário.
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